Transporte coletivo de Cuiabá é reprovado por 73% dos usuários, aponta pesquisa


Atrasos, superlotação, veículos sucateados e pontos sem estrutura são as principais queixas da população; idosos relatam humilhação e descaso

O transporte coletivo de Cuiabá está longe de agradar a população. Uma pesquisa encomendada pela Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos Delegados (Arsec) e realizada pela Ícone Consultoria em Turismo revelou que 73% dos usuários desaprovam o sistema. Apenas 26% classificaram o serviço como bom ou ótimo, enquanto 22% consideraram péssimo e 14% ruim. Para 37%, o transporte é apenas regular.

As reclamações são muitas e se repetem por toda a capital: atrasos de até uma hora, poucos ônibus circulando, superlotação, veículos antigos com falhas constantes e pontos de parada sem cobertura, tomados por mato e lixo. A pesquisa ouviu 1.500 pessoas entre os dias 13 e 28 de novembro de 2023. A margem de erro é de 3%, com 95% de confiabilidade.

Mesmo com a maioria dos usuários (51%) afirmando que o ponto de ônibus fica a até 5 minutos de casa, o tempo de espera é o maior problema: 58% aguardam entre 16 minutos e mais de uma hora. Além disso, 54% dizem que os ônibus não são pontuais e 60% não confiam nos horários divulgados.

Paradas precárias e ônibus desconfortáveis

Quando o assunto é a estrutura das paradas, 54% dos entrevistados reprovaram. Para 18%, são péssimas; 12% consideram ruins e 24% regulares. Somente 2% as classificaram como ótimas.

Em relação ao conforto e limpeza dos veículos, o cenário também é desanimador: 51% avaliaram negativamente. Além disso, 52% dos usuários disseram já ter presenciado falhas mecânicas nos coletivos, muitas vezes recorrentes.

Uma espera de duas horas e sensação de abandono

Na avenida Contorno Leste, um dos exemplos mais críticos, usuários esperam até duas horas por um ônibus. É o caso do casal de idosos Hermelina das Dores Silva Lima, 73, e Gerson Lima, 69. Eles relatam que apenas uma linha atende à região, e os atrasos chegam a ultrapassar uma hora. Além disso, os veículos são antigos, e até os com ar-condicionado apresentam problemas, como vazamento de água que molha os assentos.

“É humilhante. Os cadeirantes não conseguem nem acessar o ponto sem ajuda. Falta rampa, a calçada está cheia de mato, e nem iluminação tem”, lamenta Hermelina.

Ônibus quebrados, atrasos e correria

A rotina da técnica em serviços gerais Gisele Rodrigues Santiago, 47, também reflete o caos. Todos os dias ela sai do trabalho no centro e enfrenta atrasos de até 1h30 no retorno para casa. “É sempre assim. Os ônibus quebram, o ar-condicionado não funciona. Pagamos nossos impostos e somos tratados com desprezo.”

No CPA 3, Nerci Pinho, 60, relata que a ausência de um terminal de ônibus causa transtornos. “Quando chove, alaga tudo. O ponto final não tem estrutura, e os motoristas param onde querem. Se a gente perder o das 7h, só Deus sabe quando vem o próximo.”

Associação cobra escuta do poder público

Pedro Aquino, presidente da Associação dos Usuários de Transporte Público de Mato Grosso (Assut), afirma que o transporte está muito aquém do necessário. Ele denuncia a falta de diálogo com a prefeitura e diz que, apesar de a Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob) atender algumas demandas emergenciais, como substituição de ônibus quebrados, as melhorias estruturais seguem ignoradas.

Segundo ele, as reclamações incluem até casos de assédio e importunação sexual, o que será abordado em uma nova pesquisa da entidade.

Empresas alegam dificuldades com infraestrutura

Em nota, a Associação Matogrossense dos Transportadores Urbanos (MTU) informou que 340 ônibus circulam diariamente na cidade, atendendo cerca de 180 mil passageiros. A frota, segundo a MTU, possui idade média de 4,43 anos e quase 100% dos veículos contam com ar-condicionado.

A MTU reconhece os atrasos, mas responsabiliza principalmente a falta de infraestrutura nas vias públicas: buracos, lombadas irregulares, trechos sem asfalto e as obras inacabadas do antigo VLT e do novo BRT. Destaca ainda que 73 das 98 linhas passam pela região central, diretamente afetada pelas obras.

A entidade também ressalta a ausência de faixas exclusivas para ônibus como um fator que impacta na lentidão do sistema. Onde existem faixas exclusivas, a velocidade média é de 17,6 km/h, enquanto nas demais vias é de 16 km/h.





Fonte: Gazeta Digital
Data: 07/04/2025