Aprosoja MT critica Plano Safra 2025/26: “Crédito rural está cada vez mais inacessível”


Com juros elevados e corte nos recursos com taxas controladas, associação afirma que financiamento se tornou inviável para a maioria dos produtores em meio ao endividamento no campo.

 A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT) manifestou preocupação com o Plano Safra 2025/26, anunciado nesta terça-feira (1º) pelo Governo Federal. A entidade avalia que as condições de crédito, especialmente os juros próximos à taxa Selic, tornam o financiamento rural praticamente inviável para grande parte dos produtores, em um momento marcado pelo alto endividamento no campo.

Apesar do volume total anunciado de R$ 516,2 bilhões, uma parcela expressiva — R$ 185 bilhões — será viabilizada por meio de Cédulas de Produto Rural (CPR) lastreadas em Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), mecanismos privados que não possuem taxas controladas. Excluindo esses instrumentos, o valor efetivo disponível sofre uma redução nominal de 17,3%.

Na prática, os recursos com juros prefixados cresceram apenas 5% em relação ao plano anterior. Quando corrigido pela inflação acumulada dos últimos 12 meses, esse aumento representa uma queda real de 0,32%. Parte desses valores, inclusive, já está comprometida com o custeio da safra passada.

O Plano destina R$ 69,1 bilhões ao Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp), com juros diferenciados, mas ainda assim sem recomposição das perdas inflacionárias. No setor agropecuário, os investimentos controlados somam R$ 79,93 bilhões, com aumento nominal considerado insuficiente. Já os recursos livres caíram 31%, totalizando R$ 21,6 bilhões, e continuam exigindo garantias mais onerosas.

“Na prática, temos menos dinheiro disponível para contratar”, alerta o presidente da Aprosoja MT, Lucas Costa Beber. Segundo ele, os reajustes marginais não compensam a perda de poder de compra dos produtores rurais. “No último Plano Safra, apenas 70% do valor anunciado chegou efetivamente ao produtor. E agora, a taxa de custeio empresarial subiu de 12% para 14% ao ano”, acrescenta o diretor administrativo da entidade, Diego Bertuol.

O novo plano também estabelece juros de 10% ao ano para o Pronamp e entre 8,5% e 14% para outras operações de custeio e investimento, a depender do porte do produtor e da finalidade do crédito. Para pequenos e médios agricultores, essas condições tornam o acesso praticamente inviável, ainda mais quando parte significativa da renda está comprometida com o pagamento de dívidas anteriores.

Outro ponto crítico destacado pela entidade é a exigência de cumprimento do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para acesso ao crédito de custeio — instrumento que, segundo a Aprosoja, está frequentemente desatualizado em relação à realidade do campo.

A associação também reivindicava a ampliação do orçamento do Programa de Construção de Armazéns (PCA) para R$ 9 bilhões, especialmente em função do déficit nacional de armazenagem. No entanto, o governo destinou apenas R$ 3,7 bilhões para estruturas de até 12 mil toneladas (com juros de 8,5% ao ano) e R$ 4,5 bilhões para estruturas maiores (com juros de 10%).

No eixo da sustentabilidade, a Aprosoja MT havia solicitado a concessão de um ponto percentual de desconto nas taxas de juros para produtores que participam de programas de melhoria contínua reconhecidos pelo Ministério da Agricultura (MAPA). No entanto, o governo ofereceu apenas 0,5%, sem implantar, na prática, os incentivos sustentáveis que tanto anuncia.

“Alguns parâmetros anunciados soam inexequíveis diante do cenário econômico. O governo precisa revisar seus gastos crescentes. O ajuste fiscal é essencial para que as políticas monetárias funcionem a favor da produção de alimentos — algo que, até poucos dias, parecia preocupar o Executivo”, conclui Lucas Costa Beber.

A Aprosoja MT reitera que, além da retórica publicitária, o Plano Safra 2025/26 não trouxe avanços significativos e que o excesso de regras pode comprometer sua efetividade. A entidade seguirá defendendo uma política agrícola nacional sólida, exequível e constitucional, que garanta o acesso real dos produtores ao crédito rural em condições justas.

 





Fonte: UnicaNews
Data: 02/07/2025